A aquisição de competências de leitura e de escrita pode ser vista como um processo formal de transmissão cultural, onde interagem factores neurobiológicos e culturais. O treino sistemático exigido pela aprendizagem da leitura e da escrita poderá produzir mudanças quantitativas e qualitativas tanto a nível cognitivo como ao nível da organização do cérebro. Estudar sujeitos iletrados e letrados representa, assim, uma oportunidade para investigar efeitos de uma aprendizagem específica no desenvolvimento cognitivo e suas bases cerebrais. Neste trabalho, revemos um conjunto de investigações comportamentais e com métodos de imagem cerebral que indicam que a literacia tem um impacto nas nossas funções cognitivas e na organização cerebral. Mais especificamente, discutiremos diferenças entre letrados e iletrados para domínios cognitivos verbais e não-verbais, sugestivas de que a arquitectura cognitiva é formatada, em parte, pela aprendizagem da leitura e da escrita. Os dados de neuroimagem funcionais e estruturais são também indicadores que a aquisição de uma ortografia alfabética interfere nos processos de organização e lateralização das funções cognitivas.